terça-feira, 14 de junho de 2011

Conclusão

O itinerário filosófico de Descartes é feliz. Dissipada a dúvida, a bagagem cognitiva que Descartes pensa ter, inclui os seguintes conhecimentos a priori:

-        Res Cogitans
-        Res Extensa: o mundo material existe.
-   Res Divina: existe um Deus bom. E é a nossa garantia de que as nossas capacidades racionais produzem conhecimento.

Deus


Sabemos que pensamos e existimos, mas por vezes, duvidamos e enganamo-nos. Logo não somos perfeitos. No entanto, todos temos a ideia de perfeição, caso contrário, como poderíamos pensar que não somos perfeitos? E de onde percebemos essa ideia de perfeição?

Das duas, uma: ou a ideia de perfeição foi criada por nós próprios, ou recebemo-la do mundo exterior, ou nos apareceu de outro sítio qualquer. Mas a ideia de perfeição não pode ter sido criada por nós, porque não somos perfeitos, e o imperfeito não pode ser criado pelo imperfeito. Logo, a ideia de perfeição só pode ter sido posta em nós por um ser absolutamente perfeito: Deus.
Mas podemos estar seguros de que Deus existe? Descartes afirma que sim. Um dos argumentos que prova a existência de Deus, é o seguinte:

-        Um ser absolutamente perfeito é um ser que tem todas as perfeições, se não tiver todas as perfeiçoes, então não será absolutamente perfeito. Ora, a sua própria existência é uma perfeição, isto é, uma coisa que não existe, dificilmente se pode dizer que é perfeita. Logo se Deus é um ser absolutamente perfeito, então necessariamente existe. E se Deus é um ser absolutamente perfeito, logo, Deus existe necessariamente. 

O Cogito

O cogito é uma intuição racional, uma evidencia. Não é possível duvidar dele. Se não é possível dele, então é o tipo de conhecimento que procuramos: um tipo de conhecimento resistente à dúvida.
A primeira premissa do argumento céptico da regressão infinita parece, pois, definitivamente falsa. Afinal, nem todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças, isto porque encontrámos uma que, aparentemente, não tem necessidade de qualquer outra que a justifique.
E a melhor parte é que é possível encontrar mais conhecimentos deste tipo: basta ver o que há no “penso, logo existo” que torna indubitavelmente verdadeiro. E o que há, pensa Descartes, é isto: é que “vejo muito claramente que, para pensar é preciso existir”. Se isto é verdade, então o que quer que possamos conhecer muito claramente será verdadeiro. Este é o critério de verdade que permite ao pensamento distinguir as crenças verdadeiras das falsas.
Descartes obteve conhecimento do cogito a priori. A sua existência como ser pensante é garantida apenas através do pensamento. 

O itinerário cartesiano

Descartes sempre se afundou num enorme oceano de dúvidas, em que dizia que, os sentidos o enganavam, que a razão o enganava, e para não facilitar, existia um génio maligno que por cima de tudo o enganava consequentemente. Concluindo então, a única certeza que tinha, era de que duvidava.

Mas nesta passagem do Discurso do Método, Descartes diz:

Notei             que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava. Necessariamente era alguma coisa. E notando que esta verdade -  eu penso, logo existo -  era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam imponentes para abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.”

Além disso, mesmo que um génio maligno persistia em enganar-nos, é, ainda assim, necessário que nós existamos para sermos enganados.

O génio maligno

O génio maligno surge em Meditações Metafísicas, a obra mais importante de Descartes, considerado uma possibilidade muito remota, mas continua a ser uma possibilidade, logo não podemos deixar de a considerar. Sendo assim, quem é o génio maligno?

Este génio maligno é uma espécie de Deus, que é considerado um génio, porque os seus poderes são, supostamente, superiores aos poderes humanos. Mas, por ser considerado maligno, pode não ser o verdadeiro Deus, uma vez que Este é bom. Este génio maligno tem uma obsessão: enganar-nos. É ele que nos induz a acreditar que temos duas mãos, que temos um corpo, ou que 2 + 3 são 5. Mas tudo isto pode ser falso. Todos os nossos pensamentos podem ser mero produto da acção maligna deste génio. 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Dúvida Cartesiana

A dúvida Cartesiana


Descartes não duvida por duvidar, dúvida porque procura um conhecimento absolutamente seguro, isto é, um conhecimento que resista à dúvida mais obstinada, um conhecimento do qual não haja razões para duvidar. Por isso, diz-se que a dúvida cartesiana é metódica: é um método para encontrar o conhecimento absolutamente seguro que Descartes procura. Mas se o que procura é um conhecimento absolutamente seguro, então é necessário começar já por duvidar de tudo o que simplesmente possa parecer duvidoso. É também necessário, explorar todas as possibilidades de erro, mesmo as mais remotas, isto porque resistir à dúvida é uma condição necessária para o tipo de conhecimento que procuramos. A maior parte das vezes acreditamos nos nossos sentidos, por exemplo. E Descartes pensa que os nossos sentidos, por vezes, nos enganam. Ora, se os nossos sentidos nos enganam, ainda que é apenas por vezes, então o melhor é não acreditar neles nunca, isto porque, como diz, é prudente não confiar em quem nos engana, nem que seja uma só vez.
Vejamos por exemplo, o argumento do sonho e do génio maligno. No primeiro, Descartes defende que não é possível fazer a distinção entre estar acordado e estar a sonhar, porque podemos sonhar que estamos a fazer um teste para nos certificarmos de que estamos acordados. Do ultimo argumento irei falar a seguir.